ENCONTRO 1
A Escuridão está Pedindo para Ser Amada
Osho Zenju Earthlyn Manuel
De seu livro “Opening to Darkness”
(Poema feito após a morte de George Floyd)
A escuridão está pedindo para ser amada,
Quando perdemos o mais ínfimo sentido de paz que criamos para nós mesmos.
Nossa serenidade, uma ideia há muito desaparecida,
refletida no ranger de dentes e maxilares trancados, choque escondido sob o medo.
Erguendo os ombros para meditar enquanto desaba –
Convido você a cair sobre a terra.
Desça aqui e sinta o cheiro do suor do terror em sua pele,
sobrepondo-se ao cheiro do incense amadeirado.
Desça de quatro e cumprimente a escuridão que cheira a morte,
estende sua mão desesperada e pede para ser amada
tanto quanto amamos a luz que ela nos dá.
Respire por aqueles que ofegam pelo ar.
Desça aqui sobre esta terra.
Cada grito é um sino que não para de tocar.
Enterre seu rosto no lodo deste lugar íntimo, na doença e na tragédia compartilhadas.
Se você não tem nada a dizer, agora é a hora do silêncio mais profundo
que não pede desculpas nem procura algo gentil para dizer.
E, no entanto, o silêncio mais profundo não é quieto.
Ele sussurra no escuro e desperta você do pesadelo.
Desça aqui e fique quieto sobre a terra.
Solte a vergonha, a fúria, a culpa, o pesar, a dor
e faça disso um rio, ou uma montanha, ou um oceano.
Venha até aqui. Pegue os poemas de amor escondidos na gritaria,
observe o desenrolar das estações do ano do chão, olhe para o céu.
E quando doer por estar aqui embaixo por tempo demais,
vire-se e veja o que você não conseguiu ver do outro lado.
Respire alto. Não é necessária uma postura particular.
Caia sobre a terra. Caia de suas almofadas macias. Desça aqui.
Desça aqui, onde a única canção de ninar esta noite será a melodia do seu coração batucando canções com as quais você nasceu.
Octávia E. Butler, Parábola do Semeador
“A escuridão dá forma à luz, assim como a luz dá forma à escuridão.
A morte dá forma à vida, assim como a vida dá forma à morte.
O universo e Deus compartilham esta inteireza, um definindo o outro.
Deus dá forma ao universo, assim como o universo dá forma a Deus”.
James Baldwin: Collected Essays
Há, e sempre haverá, pântanos a serem drenados, cidades a serem criadas, minas a serem exploradas, crianças a serem alimentadas… Mas a conquista do mundo físico não é o único dever do ser humano. Ele também é chamado a conquistar o grande deserto de si mesmo. O papel preciso do artista, então, é iluminar essa escuridão, fazer arder estradas através de vastas florestas, para que não percamos de vista, em tudo o que fizermos, o seu propósito, que é, afinal, fazer do mundo uma morada mais humana.
Um chamado
Osho Zenju Earthlyn Manuel
De seu livro “Opening to Darkness”
Este não é um chamado para aqueles que querem permanecer no que pensam ser a luz, a fim de evitar serem sombrios ou serem consumidos pelo escuro onde os monstros e as coisas monstruosas vivem. Não é para aqueles que pensam que podem trazer luz através de suas palavras, canções, ou disposição temporária e alegre. Não é para aqueles que querem permanecer acorrentados à escuridão que lhes foi ensinada a temer e afastar. Este chamado não é para aqueles que estão interessados em sustentar seu medo da escuridão inevitável para ter alguma proteção imaginária contra as distorções da vida chamadas de maldade, demônios ou inferno.
Por um momento neste chamado à reconciliação, considere a escuridão não como escuridão, não como negritude, não como luz, não como a estação nua do inverno, mas como algo sem um nome, sem uma deidade. Considere a escuridão antes da respiração, como simplesmente a grande suspensão. E que estamos sendo convocados do nosso agarramento, sendo suspensos, no antigo cosmos, no desconhecido, que existia antes de nossa existência. Considere-se chamado a entrar no meio de lugar algum, a seguir o nada até o vazio, até a imortalidade. Abrir-se à abertura, abrir-se em um eclipse eterno que parece nu ou vazio, mas que está preenchido com o invisível e o incognoscível.
ENCONTRO 2
“O que te machuca te abençoa. A escuridão é a sua vela.”
—- Mevlâna Jalāl ad-Dīn Mohammad Rūmi – Afeganistão
Mensageiro
Osho Zenju Earthlyn Manuel
De seu livro “Opening to Darkness”
Um mensageiro não apenas se manifesta sobre o que está errado com a sociedade ou o que outras pessoas deveriam fazer para consertar as coisas. Um mensageiro fica em meio ao caos, ouve, descobre o que é que precisamos saber neste momento da perspectiva espiritual. Mensageiros lideram cavando na escuridão, na lama, e sabem que não há um verdadeiro ir e vir, não há partida e retorno. Para o mensageiro, a escuridão é casa.
Abrindo-se para a Ausência de Luz
Osho Zenju Earthlyn Manuel
De seu livro “Opening to Darkness”
No começo, a água escura do útero era lar.
Sem ouvidos, olhos, um nariz, uma língua, sem luz, ainda havia visão, cheiro, som, sabor e tato.
Nós nascemos descendendo do grande mistério da escuridão,
tornando-nos ricos e plenos do eternamente desconhecido.
Nas águas escuras dos nossos primórdios, nós não conhecíamos a luz, portanto não havia medo da escuridão.
A vida era escura e nós repousamos nela.
Nesse lugar de origem, nós ainda vivemos,
com uma imensa escuridão nos cercando, nem boa e nem má, ela própria não vinculada à luz, mas ainda assim relacionada.
Quando nascemos, a luz era tão desconhecida quanto a escuridão da qual nós viemos.
O brilho, intenso para os nossos novos olhos e corpo, era indefinível,
e nos coube explorar esta luz para sempre,
da mesma maneira que exploramos nossa casa da escuridão. Nós estávamos sem palavras.
Incertos da luz ou da escuridão das quais nós falamos.
A luz que pode e não pode ser vista com estes olhos é tão desconhecida quanto a escuridão.
Nosso mundo se acendeu com o nosso nascimento e nós continuamos sem conhecer a luz que está além do sol e da lua.
Nós apenas podemos conhecer um tipo de luz com estes olhos que foram formados na escuridão, um tipo de luz que nunca poderíamos criar ou conjurar.
Com os olhos fechados nós nos lembramos da quietude dos nossos primórdios, preenchidos com som sem fala, movimento sem destino.
O cheiro e a sensação da carne, dos ossos e dos músculos deram textura à escuridão, por meio dos quais pudemos tocar a vida.
Nós ainda podemos ver escuridão adentro, não com os olhos que estão fechados ou abertos, mas com a visão dada na escuridão do nosso nascimento.
ENCONTRO 3
O Tambor Pintado
Louise Erdrich
“A vida vai quebrar você.
Ninguém pode te proteger disso,
nem mesmo viver sozinho,
porque a solidão também vai quebrá-lo com seus anseios.
Você tem que amar.
Você tem que sentir.
Esta é a razão que pela qual você está aqui na Terra.
Você está aqui para arriscar seu coração.
Você está aqui para ser engolido.
E quando acontecer de você ser partido, ou traído, ou deixado, ou machucado,
ou quando a morte passar perto,
permita-se se sentar sob uma macieira
e ouça as maçãs caindo ao seu redor aos montes,
desperdiçando sua doçura.
Diga a si mesmo que você provou tantas quanto pôde.”
Consciência, Escuridão, Energia e Luz
Osho Zenju Earthlyn Manuel
De seu livro “Opening to Darkness”
Jesus, quando disse, “Vocês são a luz do mundo” e “Eu sou a luz do mundo”, sua experiência no mundo mediou tal consciência de que a luz é todo mundo. Ao nos abrir para a escuridão, nós estamos dando boas vindas à experiência dela, ao que é encontrá-la e conhecê-la como vida e luz. Apenas por meio da consciência nós conhecemos a vida ou o mundo em que vivemos. Apenas por meio da consciência nós conhecemos a escuridão como luz.
Vendo as nossas vidas escuras como experienciando a consciência da luz é começar a se abrir para a escuridão. Nós começamos a experienciar o processo transformador na escuridão como a transformação que nós buscamos, pela qual rezamos ou invocamos em nossas vidas quando estamos sofrendo. Nós podemos ver com a consciência como, quando viramos as costas para escuridão, nós estamos virando as costas para a luz que ansiamos. Na escuridão nós vemos que estamos constantemente nos transformando, que estamos em um relacionamento dinâmico, e em fusão constante, e indistinguível com a escuridão.
Salmo 23 – Bobby McFerrin
O Senhor é meu Pastor, é tudo o que eu preciso,
Ela me faz deitar nos prados verdes,
Ao lado da água parada, Ela irá me guiar.
Ela renova minha alma, Ela corrige meus erros,
Ela me guia em um caminho de boas coisas,
E preenche meu coração com músicas.
Ainda que eu caminhe, por uma terra escura e assustadora,
Não há nada que possa me perturbar,
Ela disse que Ela não irá me abandonar,
Eu estou em suas mãos.
Ela arruma a mesa para mim, na presença dos meus inimigos,
Ela unge minha cabeça com óleo,
E minha xícara transborda.
Com certeza, com certeza a bondade e gentileza irão me seguir,
Todos os dias da minha vida,
E eu irei morar em Sua casa,
Sempre, para sempre e por todo osempre.
Glória por ser nossa Mãe, e Filha,
E para o Sagrado dos Sagrados,
Como era no princípico, agora e sempre,
Mundo, sem fim.
Amém.